Estomatite Aftosa Recorrente (Ulcerações Aftosas)
Apesar de ser uma das lesões orais mais comum, a afta ainda possui etiologia desconhecida. Acredita-se que sua causa seja multifatorial, alguns fatores como alergias, trauma, estresse, fatores imunológicos, deficiência nutricional e hematológica, predisposição genética, hiperacidez bucal e agentes infecciosos podem estar relacionados com a doença. Sabe-se que a destruição tecidual causada pela lesão é resultante de uma reação imunológica mediada por células T. O estudo do sangue de pacientes com a estomatite aftosa recorrente mostram uma depressão ou inversão da relação CD4+/CD8+ e aumento de TNF-α (fator de necrose tumoral).
Várias doenças sistêmicas estão relacionadas com lesões semelhantes as aftas, são algumas:
- Síndrome de Behçet
- Doença Celíaca
- Neutropenia Cíclica
- Deficiências Nutricionais (Ferro, ácido fólico, vitamina B12)
- HIV
Características Clínicas
As ulcerações aftosas podem ser classificadas em três tipos: menor, maior e herpetiforme. Essas lesões são mais frequentemente encontradas em crianças e adultos jovens, principalmente antes dos 30 anos. As ulcerações aftosas menores são as mais comuns e que apresentam menores índices de recidiva, possuem grande predileção por mucosa não-ceratinizada (principalmente mucosa jugal e labial). Normalmente são lesões doloridas, bem circunscritas (arredondadas ou ovaladas) que costumam medir entre 3 e 10mm, são cobertas por uma membrana fibrinopurulenta de coloração cinza-amarelada, circundada por um halo eritematoso. Essas lesões são auto-limitadas e desaparecem em 7 a 14 dias em deixar cicatriz. O envolvimento da mucosa ceratinizada é raro. As ulcerações aftosas maiores são mais incomuns, possuem uma sintomatologia mais severa, podendo levar ao comprometimento da fala, deglutição e mastigação. As lesões são mais profundas e medem cerca de 1 a 3cm de diâmetro e levam de semanas a meses para desaparecerem, podendo causar cicatrizes. São mais comuns em lábio e palato mole.
Ulceração aftosa menor - Halo eritematoso circundando
uma ulceração amarelada em lábio superior.
Disponível em: http://www.lia.ufscar.br/ |
Ulceração Aftosa Menor
Disponível em: http://www.dicasodonto.com.br/2013/09/09/afta/ |
Ulceração Aftosa Maior - Podemos observar que a lesão apresenta-se
maior e mais profunda. Localizada em mucosa jugal
Disponível em: http://www.skinsight.com/ |
Ulceração aftosa maior
Disponível em: http://www.tauntonmaxfax.net/ |
As ulcerações aftosas herpetiformes apresentam os maiores índices de recidivas, são caracterizadas pela presença pequenas e múltiplas lesões aftosas na mucosa oral. Normalmente as lesões tendem a se fundir umas as outras, uma lesão individual mede cerca de 1 a 3mm e são mais frequentes na mucosa não-ceratinizada. as lesões cicatrizam de 7 a 14 dias. O termo herpetiforme é usado porque a lesão se assemelha à infecção primária pelo HSV (gengivoestomatite herpética primária).
Pequenas e numerosas lesões ulceradas localizadas na
superfície ventral da língua.
Neville et al, 2009 |
Estomatite Aftosa Herpetiforme
Disponível em: http://zl.elsevier.es/ |
Características Histopatológicas
Quanto sua característica histopatológica, a estomatite aftosa recorrente não apresenta um padrão específico, podemos observar perda da integridade epitelial coberta por uma membrana de fibrina, o tecido conjuntivo exibe um aumento da vascularização e infiltrado inflamatório misto contendo linfócitos, histiócitos e leucócitos. As margens da lesão apresentam pústulas espongióticas e numerosas células mononucleares no terço basilar. Em alguns casos podemos observar atipia reativa como células epiteliais multinucleadas e hiperplasia de células basais.
Área central ulcerada e presença de infiltrado
inflamatório no T. conjuntivo.
Disponível em: http://www.uiowa.edu/ |
O diagnóstico da lesão é feito com base no exame clínico, história médica do paciente e na exclusão de outras patologias que são caracterizadas pela apresentação de lesões semelhantes. Em relação ao tratamento, os casos mais leve da doença podem ser tratados com a administração de corticosteroides tópicos como o propionato de clobetasol a 0,05% para bochecho ou gel de betametasona para aplicação tópica (0,05%). Em ulceras maiores e mais persistentes usa-se corticosteroides mais potentes, até mesmo medicamentos sistêmicos.
Além dos corticosteroides, a literatura ainda cita talidomida, colchicina, dapsona e clorexidina como meios de tratamento para a estomatite aftosa recorrente. A cauterização com agentes cáusticos (nitrato de prata, ácido sulfúrico e agentes fenólicos) não são mais indicadas devido a chance de causar necrose epitelial focal.
Referências
FRAIHA, P. M.; BITTENCOURT, P. G.; CELESTINO, L. R. Estomatite aftosa recorrente: revisão bibliográfica. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo , v. 68, n. 4, p. 571-578. jul/Aug. 2002.
COSTA, G.B.F; CASTRO, J.F.L. Etiologia e tratamento da estomatite aftosa recorrente-revisão de literatura. Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 46, n. 1, 2013.
WOO, S.B. Atlas de patologia oral. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 456 p.