Genodermatoses - Doença de Darier
Também conhecida como disceratose (ou ceratose) folicular, a Doença de Darier (DD) é uma genodermatose incomum que apresenta sintomatologia em pele e mucosa, além de frequentemente ter relação com outras alterações como atraso mental, epilepsia e outros distúrbios neurológicos.
Acredita-se que a etiologia da condição esteja relacionada a um gene, o ATP2A2, esse gene é responsável por codificar uma bomba de Cálcio, então, a partir disso, estudos mostram que com essa deficiência algumas estruturas celulares, como os desmossomos ficam comprometidos (Pois a sinalização química para a ativação e desenvolvimento dessas estruturas dependem do cálcio intracelular), fazendo com que haja uma falta de coesão entre as células epiteliais.
Não há predileção por gênero e normalmente a DD é diagnosticada em indivíduos entre a primeira e segunda décadas de vida. A condição é herdada por um traço autossômico dominante com penetrância completa e expressão variável.
Quanto a prevalência, a literatura nos mostra um proporção de 1:100.000.
A Doença de Darier pode ter manifestação em todo o corpo
Disponível em: http://www.orpha.net/consor/cgi-bin/OC_Exp.php?lng=pt&Expert=218 |
Características Clínicas
O paciente portador da DD normalmente apresenta sintomatologia envolvendo pele e mucosa, embora alguns casos possam envolver apenas um isoladamente. A condição na maioria dos casos é assintomático sendo descoberto apenas em exames de rotina, alguns paciente relatam prurido ou ardor.
As lesões de pele são caracterizadas pela presença de pápulas brancas ou avermelhadas distribuídas principalmente pela região de pescoço, próxima ao osso esterno e costas (embora possam acometer qualquer local do corpo). As múltiplas pápulas podem se unir formando placas avermelhadas ou crostas, muitas vezes áreas de ulceração são encontradas. Os pacientes relatam que as lesões pioram nas épocas mais quentes, acredita-se que seja devido a sensibilidade à luz ultravioleta.
Em alguns casos (em torno de 60%), os pacientes podem apresentar distrofia ungueal (alterações nas unhas), que são representadas por estrias brancas ou vermelhas, além de rachaduras. As plantas dos pés e a palma das mãos também podem exibir depressões ou lesões papulares semelhantes as que ocorrem na pele de outras regiões.
O acometimento oral é visto em 50% dos casos e muitas vezes é a única sintomatologia que o paciente apresenta. Frequentemente o palato duro e o rebordo alveolar apresentam uma superfície bastante irregular, descrita como pedregosa, devido a presença de múltiplas pápulas avermelhadas ou esbranquiçadas. A mucosa jugal também pode ser comprometida, apresentando tais características. Hiperplasia gengival, obstrução e tumefação das glândulas salivares já foram citadas na literatura.
O Disceratoma verrucosoé descrito como uma forma isolada da Doença de Darier, ele se apresenta como uma pápula umbilicada de coloração esbranquiçada e que possui predileção pela mucosa ceratinizada (palato duro e rebordo alveolar).
DD - Multiplas pápulas de coloração esbranquiçada localizadas em palato
duro (aspecto pedregoso)
Disponível em: http://www.globalskinatlas.com/imagedetail.cfm?topLevelID=1807&imageID=4188&did=515 |
DD - A presença das pápulas é mais comum no palato duro e no rebordo alveolar
Disponível em: http://www.ijdr.in/article.asp?issn=0970-9290;year=2011;volume=22;issue=6;spage=843;epage=846;aulast=Thiagarajan |
DD - Presença de muitas pápulas avermelhadas (algumas exibindo uma maior hiperceratose) próximas
a região cervical e esterno.
Disponível em: http://www.odermatol.com/issue-in-html/2011-3-15-eponymsd/ |
DD - Estrias brancas e rachaduras nas unhas
Disponível em: http://www.globalskinatlas.com/imagedetail.cfm?TopLevelid=2075&ImageID=4699&did=6 |
Características Histopatológicas
As lesões de pele, mucosa e o disceratoma verrucoso apresentam características histológicas semelhantes. Onde podemos observar uma "cratera" no epitélio, estando este espaço preenchido por um tampão de ceratina. É bastante comum a presença de acantólise suprabasal e células disceratóticas conhecidas com grãos e corpos redondos. As cristas epiteliais apresentam-se alongadas semelhantes às "vilosidades" ou "tubos de ensaio".
Os corpos arredondados são células epiteliais que apresentam o citoplasma bastante eosinofílico e o núcleo basofílico. Já os grãos, são células menores que exibem um núcleo picnótico e hipercromático.
Podemos observar a presença de um tampão de ceratina, hiperceratose e uma
fenda suprabasal (acantólise).
Disponível em: http://www.dermpedia.org/dermpedia-textbook/dariers-disease |
Presença de uma "cratera" epitelial preenchida por ceratina, abaixo podemos notar
acantólise suprabasal.
Disponível em: http://dermatopatologiaparainiciantes.blogspot.com.br/2012/02/qual-o-seu-diagnostico_29.html |
Tratamento
O tratamento da Doença de Darier consiste na utilização de cremes emolientes e ceratinolíticos para remissão e diminuição das lesões. Em casos mais graves, está indicado o uso de retinóides, embora, esses agentes causem muitos efeitos adversos, seu uso deve ser sempre acompanhado pelo profissional responsável. Em casos de infecções, o uso de antimicrobianos tópicos ou sistêmicos (dependendo da gravidade) também são relatados na literatura.
É interessante informar ao paciente que tente ao máximo evitar o contato com o calor e os raios UV, pois, como já foi dito, são considerados fatores agravantes.
O Disceratoma verrucoso (forma isolada da DD) é tratado a partir da excisão cirúrgica simples.
Referências:
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NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia Oral e Maxilofacial. Trad.3a Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, 972p.
PONTI, Lucas et al. Enfermedad de Darier. Dermatología Argentina, v. 17, n. 6, p. 457-460, 2012.
REGEZI, J.A; SCIUBA, J.J; JORDAN R.C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 6ª edição. Elsevier, 2013.
THIAGARAJAN, Magesh Karuppur et al. Darier disease with oral and esophageal involvement: A case report. Indian Journal of Dental Research, v. 22, n. 6, p. 843, 2011.
WOO, S. B. Atlas de patologia oral. 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013.