Lesões de Glândulas Salivares - Mucocele, Rânula e Sialolitíase
Mucocele
O fenômeno de extravasamento de muco, clinicamente chamado de mucocele, é uma das leões orais mais comum, principalmente em crianças e adolescentes. sua etiologia está relacionada com o rompimento dos ductos glandulares e extravasamento do conteúdo salivar para os tecidos adjacentes, normalmente esse rompimento é causado por trauma.
Características Clínicas
A mucocele normalmente se localiza em lábio inferior, mas a mucosa jugal e a região anterior do ventre lingual também pode ser acometida (onde as glândulas de Nuhn-Blandin estão localizadas). A lesão apresenta-se como um aumento de volume de consistência amolecida e coloração levemente azulada, principalmente quando a mucina salivar está localizada mais superficialmente. A lesão não apresenta sintomatologia dolorosa e frequentemente os pacientes relatam que as mesmas aumentam e diminuem de tamanho. É comum que essas lesões tenham no máximo 2 cm de diâmetro.
Uma variante do fenômeno de extravasamento de muco é a mucocele superficial, que apresenta predileção por locais como o palato mole, região posterior de mucosa jugal e região retromolar. Essa variante não está relacionada com traumatismos, ao invés disso, acredita-se que tais lesões ocorram devido a uma maior pressão na porção externa do ducto excretor. Clinicamente apresentam características clínicas semelhantes ao padrão convencional, embora apresentem uma coloração mais transparente.
Embora as características sejam altamente sugestivas, é necessário que o profissional considere algumas lesões como diagnósticos diferenciais, são algumas: Carcinoma mucoepidermóide (devido a coloração azulada que esse tumor costuma apresentar), variz, hemangioma, neurofibroma elipoma.
O lábio inferior é o local mais comum para o desenvolvimento
dessas lesões, principalmente porque é um local bastante comum
aos traumas
Disponível em: http://www.tuasaude.com/mucocele/ |
Lesões mais profundas apresentam a superfície com coloração
normal.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mucocele |
Lesão localizada em ventre lingual, nesse local encontramos as
glândulas de Nuhn-Blandin.
Disponível em: http://www.ghorayeb.com/Tonguemucocele.html |
Mucocele superficial em palato mole, observar que a lesão
apresenta uma coloração mais transparente.
Disponível em: http://doctorspiller.com/mucocele.htm |
Características Histopatológicas
Histologicamente observamos uma área de extravasamento de mucina circundada por um tecido de granulação, contendo muitos neutrófilos e macrófagos, além de diversos vasos sanguíneos. A glândula salivar afetada exibe alterações como dilatação do ducto, inflamação e fibrose.
Quanto ao diagnóstico diferencial histopatológico, o carcinoma mucoepidermoide e o carcinoma de células claras, apresentam células pálidas em seus componentes microscópicos, embora, nessas duas patologias encontramos células neoplásicas invadindo o tecido adjacente, o que não ocorre na mucocele.
Área de extravasamento de mucina no tecido conjuntivo circundada por um
tecido de granulação.
Disponível em: http://www.humpath.com/spip.php?article5969 |
Imagem com aumento maior, onde podemos observar a área de
extravasamento de mucina e o tecido de granulação.
Disponível em: http://www.humpath.com/spip.php?article5969 |
Observar o tecido de granulação contendo infiltrado inflamatório e
vasos sanguíneos.
Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mucocele_of_lower_lip_(2).JPG |
Diagnóstico e Tratamento
Como já mencionado acima, o diagnóstico da mucocele é obtido facilmente a partir das características clínicas e história de evento traumático prévio reportado pelo paciente. O diagnóstico final é obtido a partir do exame microscópico.
O tratamento mais indicado é a excisão cirúrgica simples, é importante que as glândulas salivares adjacentes também sejam removidas para evitar recidiva da lesão.
As mucoceles superficiais se rompem espontaneamente, não havendo necessidade de remoção cirúrgica.
A Rânula é uma variante do fenômeno de extravasamento de muco que ocorre em assoalho bucal devido, principalmente, ao rompimento ou obstrução do ducto da glândula sublingual ou submandibular. A lesão recebe esse nome por suas características clínicas serem semelhantes ao "ventre de uma rã". Alguns estudos, ainda sem comprovação, tem mostrado que a rânula apresenta uma relação com a Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Assim como as mucoceles, acomete crianças e adolescentes com mais frequência.
Características Clínicas e Histopatológicas
Clinicamente, a rânula apresenta-se como um aumento de volume unilateral em assoalho bucal, é uma lesão de consistência amolecida, séssil e coloração levemente azulada devido ao conteúdo mucinoso em seu interior. Normalmente não apresenta sintomatologia dolorosa, e dependendo do tamanho, pode causar elevação da língua. O cisto dermoideé uma lesão que deve ser levada em consideração como diagnóstico diferencial da rânula.
A Rânula mergulhante é uma variante rara onde a mucina extravasada adentra as fibras musculares do músculo milo-hioide, provocando um aumento de volume de consistência amolecida na região cervical.
Em relação a suas características microscópicas, a rânula apresenta bastante semelhança com a mucocele, onde podemos observar uma área de extravasamento de mucina circundada por tecido de granulação.
Aumento de volume de coloração azulada em assoalho bucal.
Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Ranula |
É comum que as rânula se localizem em apenas um lado do assoalho.
Disponível em: http://cac-php.unioeste.br/projetos/patologia/lesoes_fundamentais/bolha/imagem3.php |
Rânula apresentando coloração semelhante a da mucosa oral.
Disponível em: http://dentistryandmedicine.blogspot.com.br/2011/10/mucocele-ranula-and-dermoid-cyst-short.html |
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico da rânula é feito a partir de suas características clínicas, obtendo-se o diagnóstico final com o exame histopatológico. Nos casos de rânulas mergulhantes é necessário a solicitação de exames de imagem como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (IRM).
O tratamento consiste na remoção da lesão juntamente com a glândula afetada. Outras formas menos invasivas como a marsupialização ou descompressão tem mostrado bons resultados em lesões de pequeno diâmetro.
Os cálculos salivares ou sialólitos são formados a partir da precipitação e deposição de sais de cálcio no interior da glândula ou de seus ductos. Acredita-se que restos epiteliais e bactérias associadas a esses sais possam formar tais lesões.
Essa doença pode acometer indivíduos de todas as idades, porém, é mais frequente em adultos jovens e pessoas de meia idade.
A Sialolitíase acomete tanto as glândulas salivares menores quanto as maiores, dentre as maiores, a glândula mais afetada é a submandibular (cerca de 80% dos casos), que apresenta ductos mais longos e tortuosos, além de uma saliva mais espessa e que "caminha" contra a gravidade (já que seu ducto tem uma posição ascendente). Quando localizada em glândulas maiores, os pacientes costumam relatar aumento de volume e dor, principalmente durante as refeições. Muitas vezes uma sialoadenite da glândula afetada pode ocorrer em associação.
Quando localizado em glândulas salivares menores não costuma produzir sintomatologia dolorosa, embora o aumento de volume esteja presente. As glândulas do lábio superior são as mais afetadas. Os sialólitos são estruturas calcificadas de coloração branco-amarelada, que exibem um formato oval ou cilíndrico.
Sialolitíase - Observar o aumento de volume na região de glândula
submandibular. O aumento de volume e a dor são agravados em horários
de refeição.
Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Sialolithiasis |
Sialólito em glândula salivar menor - Discreto aumento de volume em
lábio superior.
Disponível em: http://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id=10.5021/ad.2013.25.4.502&vmode=PUBREADER |
Sialólito de tamanho considerável localizado no óstio do ducto da glândula
submandibular
Neville et al, 2009 |
Radiograficamente os cálculos se apresentam como massas radiopacas de formatos variados, dependendo do tipo de radiografia utilizada. Sialólitos localizados nos ductos da glândula submandibular são mais facilmente vistos em radiografias oclusais, onde frequentemente apresentam um formato cilíndrico. Quando há sobreposição de imagem nas radiografias panorâmicas é necessário o diagnóstico diferencial com lesões intraósseas.
Nem todas as lesões apresentam-se radiopacas, lesões com baixos níveis de calcificação costumam não aparecer nas radiografias.Outros exames de imagem utilizados para visualização de tais lesões são a TC, ultrassonografia e a sialografia.
Imagem radiopaca de contorno bem definido compatível com
sialólito em glândula submandibular.
Disponível em: https://www.facebook.com/groups/radiologiaodontologica/ |
Radiografia oclusão onde podemos observar a presença de uma imagem
radiopaca. Observar o formato cilíndrico da lesão.
Disponível em: http://openi.nlm.nih.gov/detailedresult.php?img=3134965_TODENTJ-5-90_F1c&req=4 |
Ultrassonografia - Presença de múltiplos cálculos no ducto da glândula submandibular.
Disponível em: http://www.ultrasoundcases.info/Case-List.aspx?cat=280 |
Imagem hiperdensa compatível com sialólito em TC
Disponível em: http://radiopaedia.org/images/18819 |
Caraterísticas Histopatológicas
O sialólito, microscopicamente, apresenta-se como uma massa disposta em lamelas concêntricas obstruindo um ducto salivar, que por sua vez, apresenta-se dilatado e/ou inflamado. Frequentemente o ducto afetado exibe metaplasia escamosa.
Em "A" podemos observar a presença de uma massa calcificada lamelar no interior de
um ducto dilatado. Em "B" observamos a presença de metaplasia escamosa na superfície
do ducto.
Disponível em: http://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id=10.5021/ad.2013.25.4.502&vmode=PUBREADER |
Presença de múltiplas estruturas calcificadas (seta vermelha) no interior
de um ducto salivar.
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/jian-hua_qiao_md/8600938101/in/set-72157633117607513/ |
A sialolitíase é diagnósticada a partir da associação da história relatada pelo paciente, exame clínico e radiográfico. Cálculos pequenos localizados nos ductos glandulares podem ser removidos de forma conservadora, a partir da massagem glandular, aumento na ingestão de água, alimentos cítricos e uso de sialogogos (como a pilorcapina), esses procedimentos visam aumentar o fluxo salivar no interior do ducto para eliminação do cálculo.
Sialólitos maiores necessitam de remoção cirúrgica, muitas vezes a glândula salivar afetada (dependendo de seu grau de inflamação) deve ser removida. Em glândulas salivares menores, a remoção da lesão e da glândula é o tratamento indicado.
Aspecto macroscópico de um grande sialólito
Disponível em: http://jscr.oxfordjournals.org/content/2012/9/6 |
Referências
BRANCO, Bruno de Lira Castelo et al. Sialolitíase: relato de um caso. BCI, v. 3, n. 3, p. 9-14, 2003.
DE OLIVEIRA BELLANI, William Augusto Gomes; ARCHETTI, Felipe Belmonte; COMPAGNONI, Marilia. Rânula em paciente com HIV: relato de caso. Archives of Oral Research, v. 8, n. 3, p. 255-59, 2012.
REGEZI, J.A; SCIUBA, J.J; JORDAN R.C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 6ª edição. Elsevier, 2013.
SUH, Dong Woo; LEW, Bark Lynn. Minor Salivary Gland Sialolithiasis of the Upper Lip. Annals of dermatology, v. 25, n. 4, p. 502-504, 2013.